Depois de cinco temporadas, chega ao fim a controversa série Fringe (exibida na TV aberta brasileira sem muito alarde como Fronteiras). Em terras tupiniquins, a Warner fez uma grande maratona neste final de semana de carnaval, permitindo que se visse, de uma vez só, os 13 episódios da temporada derradeira. Nada mais lógico, levando-se em conta que este quinto ano nada mais foi do que um grande filme em 13 partes. Foi feita pra isso, planejada exatamente para ser o desfecho para a série que, muitas vezes, esteve a perigo do cancelamento sem uma conclusão digna, graças aos números nunca empolgantes da audiência americana.
Contexto de lado, este texto se pretende uma reflexão sobre a série como um todo, desde seu primeiro e grandioso episódio e o primeiro evento Fringe no qual Olivia se envolveu, até o sacrifício de Walter para que seu filho e a agente do FBI pudessem viver o seu felizes para sempre. A primeira consideração me parece óbvia: não houve um grande arco planejado para a série como um todo. Ou seja, não houve um elemento que fosse criado desde o princípio para ser resolvido, mesmo que parcialmente, até o final do seriado. A temática, mesmo ela, foi mudando ao longo do tempo. Deixamos de acompanhar eventos estranhos e isolados da ciência de borda, por assim dizer, para acompanhar questões como paradigmas temporais, mundos alternativos e futuro apocalíptico.
Claro que, desde sempre, os observadores estavam lá. Sempre foi uma das grandes diversões encontrar o sujeito em cada episódio exibido, presenciando o tal evento bizarro. Mas não acredito que isso seja uma marca de iniciar ali a trama que os envolveria em uma invasão e os transformaria nos grandes antagonistas da temporada final. Talvez, se formos por outro caminho, o grande arco foi mesmo o desenvolvimento das relações entre Peter e Walter enquanto filho e pai, bem como no amadurecimento de Olivia e seus conflitos internos. Em outras palavras, assim como o caminho escolhido para Lost (curiosamente, também originado na mente nerd de J. J. Abrams), Fringe se focou no desenvolvimento e no aprofundamento de seus personagens.
Ainda assim, foi muito interessante ver alguns pontos da série serem retomados ao final, ajudando a compor um grande ciclo, como as viagens entre universos paralelos, alguns eventos que fizeram parte das temporadas anteriores (com direito a observador flutuante, cérebro de homem-porco-espinho e rostos cicatrizados ao extremo) e o famigerado Cortexiphan, cada qual com sua função narrativa, ao mesmo tempo que gerava uma espécie de fan service. Mesmo a Gene esteve presente em um dos vários momentos emotivos de despedida que marcaram principalmente a metade final da quinta temporada.
Mas, de fato, talvez o que possa ter incomodado mais seja a fragilidade do plano final de Walter. Tratado o tempo todo como a salvação praticamente infalível do mundo, o plano se baseava na aposta que as pessoas do futuro mudariam de ideia no rumo de suas pesquisas científicas ao verem o garoto que desenvolveu inteligência superior conjugado à emoção. Ora... e se eles simplesmente concordassem que o garoto era mesmo só uma anomalia? E se Walter não conseguisse conversar com eles? E se o menino simplesmente fosse atropelado no caminho? Para um cientista brilhante e uma série que lhe dá com o improvável, mas ainda assim científico, faltou um pouco de lógica no plano onde todos investiram todas as fichas.
Enfim, com todos os deslizes, as mudanças de rumo e as derrapadas na audiência, com todas as críticas e as comparações (inevitáveis) com Arquivo X e Lost, com todas as piadas de Walter e as caras sofridas de Olivia, Fringe se mostrou uma ótima experiência. Não é perfeita, nem o foi em sua temporada final, mas nem por isso deixa de estar acima da média no que consta os seriados americanos. Ótima ficção científica em dias onde o tema está bastante esgotado pela televisão. Ótimo também o fato de terem dado a oportunidade dos produtores fecharem a série com planejamento (e não cancelando quando não haveria mais tempo, como ocorreu com Heroes e tantas outras). Que seja um bom exemplo a ser seguido.