Tudo bem, tudo bem... o primeiro filme desta ótima trilogia já está completando seus 16 aninhos e já vimos muitos dinossauros na tela desde então. Aproveitando que está rolando por esses tempos a estréia do filme que adapta o seriado oitentista O Elo Perdido, onde algumas vezes os envolvidos dizem que é uma mistura entre comédia pastelão e o clássico de Spielberg, aproveitei para reassistir a trilogia de O Parque dos Dinossauros (como foi chamado aqui muito depois que o nome original Jurassic Park já tinha se diluido). E cada vez mais sou fã.
O filme original, baseado em livro homônimo de Michael Crichton, foi uma das maiores revoluções na história dos efeitos especiais do cinema mundial. Pela primeira vez na história, o CGI, hoje usado aos escessos por diretores ruins e deslumbrados, foi utilizado para se criar criaturas vivas em tom de realidade. Antes, a maior aplicação da técnica tinha sido alcançada por James Cameron, em Terminator 2 (O Exterminador do Futuro 2 - O Dia do Julgamento), criando e mesclando o T1000 ao ambiente real. Ainda assim, era metal, e não um organismo. Spielber, depois de testar o stop-motion, acabou por investindo na idéia de se criar dinossauros em CGI, buscando um nível de realismo nunca visto antes na construção de criaturas orgânicas. E conseguiu! Sua equipe de efeitos especiais alcançou um nível de suspensão da descrença admirado até hoje e alcançado por muito poucos.
Unindo tecnologia de ponta a um ótimo roteiro, construído a partir do livro, o filme conta a história de um parque temático, construído em uma pequena ilha perto da Costa Rica, onde a grande atração eram dinossauros reais, clonados a partir de fósseis de mosquitos que teriam guardado o DNA destas criaturas pelo sangue do qual se alimentavam, através da fossilização. A forma de se amarrar a história cientificamente para torná-la crível é interessante e convence, ainda que possa conter alguns buracos que os especialistas possam apontar. Mas partindo deste ponto, o filme mostra um grupo de visitantes-teste, formado por um paleontólogo renomado (Alan Gant, vivido por Sam Neil), uma paleo-botânica (Ellie Sattler, vivida por Laura Dern), um matemático adepto da Teoria do Caos (Iam Malcolm, interpretado por Jeff Goldblum), duas crianças e um advogado. Quando um funcionário descontente do parque boicota o passeio para fugir com parte do desevolvimento da clonagem, o passeio começa a dar errado e todos que estavam visitando essas criaturas, juntamente com o criador e idealizador do parque (John Hammond - estrelado por Sir Richard Attenborough) e os funcionários que sobraram (dentre eles, Ray, vivido por Samuel L. Jackson), passam por apuros para se manterem vivos e não serem caçados naquela ilha distante.
As cenas de ação são incríveis, fantasticamente coreografadas e de um misto de tensão e aventura como nos melhores momentos de Steven Spielberg. A forma de condução da narrativa é muito bem trabalhada e não nos cansamos de ver braquiossauros, velociraptors. Outros aparecem por poucos momentos, como o Triceratops e o Dilofossauro, mas com participações importantes. De qualquer modo, o grande astro do filme, sem dúvida, é o Tiranossauro, protagonista das melhores cenas do filme. Sua primeira aparição é parte da história do cinema e certamente está entre as primeiras lembranças que cada um de nós temos quando alguém toca na palavra "dinossauro". A trilha de John Williams segue o mesmo caminho, compondo um espetáculo tão grandioso quando as criaturas do filme.
Apesar de o filme descrever a calamidade causada na ilha como uma falha intencional causada pelo técnico em informática da ilha, percebemos, ao longo da narrativa, que o grande discurso, tanto dos personagens como o de Spielberg, é que não se pode brincar de Deus. Como disse Iam Malcolm, a ciência por trás daquele mundo fantástico estava tão preocupada em mostrar que poderia recriar animais extintos há milhares de anos que não se deu conta de pensar se deveria. O controle que os homens naquele parque acreditavam ter sobre a vida se mostrou, sistematicamente, falho. Tanto enquanto administradores do parque, já que não poderia controlar sequer quando os dinossauros apareceriam para os visitantes, como não puderam controlar a reprodução desses animais em seu habitat. "A vida encontra seu caminho", disse Iam Malcolm e repetiu Alan Grant. E essa é a grande mensagem que podemos tirar daquilo tudo. É genial conseguir reavivar criaturas a partir da genética, e muitas vezes todos se mostraram estasiados por presenciar algo que jamais deveria estar em nosso tempo, mas ao final, todos sabiam que aquilo nã estava certo, nem a sua criação, nem a sensação de controle. Até mesmo aquele que criou tudo isso. Ele não poupou despesas, como repete o filme todo, mas ainda assim não conseguiu controlar aquilo que achava que poderia: a vida.