terça-feira, 9 de agosto de 2011

[ Review ] Falling Skies - 1ª Temporada

ETs e invasões alienígenas não são nenhuma novidade no mundo do entretenimento, certo? Orson Welles conseguiu, segundo relatos, criar um certo pânico quando, lá em 1938, com um programa de rádio adaptando a obra de H. G. Wells - Guerra dos Mundos - em formato de noticiário falso. Saiba mais sobre essa passagem da história do cinema em um artigo especial do Omelete clicando AQUI. Depois disso (antes também), não faltam exemplos na literatura, no cinema, na televisão e nos videogames de histórias que se baseiam na chegada, quase nunca pacífica, de vida inteligente ao nosso planeta. De homenzinhos verdes de Marte até robôs gigantescos de Cybertron, de Wookies a Predadores, o universo inteiro tem interesse em dominar a Terra, ou pelo menos abusar um pouquinho dela, começando geralmente pelos Estados Unidos da América (de preferência, no Dia da Independência americana, como nos ensinou Roland Emmerich).

Neste contexto, Steven Spielberg também tem suas contribuições. Do pacífico ser de olhos grandes de ET - O Extraterrestre até a adaptação do mesmo Guerra dos Mundos, o cineasta sempre foi referência no mundo nerd quando o assunto eram os seres de outro planeta. Portanto, não é por acaso que assina essa nova produção que também se propõe a explorar o tema. O que leva, certamente, a pergunta: Porque ele faria isso? O que mais esse sub-gênero pode oferecer que não esteja sendo repetido por todos os cantos com produções questionáveis para o cinema como Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles ou Skyline? O que o formato de seriado pode querer depois do relativo fracasso da nova versão de V - A Batalha Final? Falling Skies é a resposta para todas essas perguntas. Talvez não uma resposta maravilhosa, e para alguns uma péssima resposta, mas mesmo assim, uma nova idéia.

Não que o seriado, que acaba de encerrar a sua primeira temporada de apenas 10 episódios nos States, seja maravilhosamente original. A sensação de quem assiste e acompanha o dia-a-dia de um grupo de sobreviventes de uma invasão alienígena é de que já viu aquilo algumas vezes. Mas, ao não se focar nas grandiosas batalhas, e sim nas relações entre personagens, a produção que é encabeçada por Spielberg se destaca e, no final das contas, vale a pena ser acompanhada. Tanto que já está renovada para mais uma temporada e a tendência é de se manter firme, com um público fiel e já bastante estabelecido.

Resumindo, a trama se concentra alguns meses depois de uma invasão que praticamente dizimou a população do nosso planeta. Os ETs chegaram, desligaram tudo o que era eletrônico por aqui, o que atingiu todas as nossas possibilidades de defesa, e venceram. Sequestraram pré-adolescentes e mataram o resto. Há poucos sobreviventes vivendo em pequenas comunidades, algumas das quais compostas do que sobrou das forças armadas e civis. O foco da narrativa está no grupo nomeado como a 2ª de Massachusetts, e está centrada na família de Tom Mason, ex-professor de História e segundo no comando do agrupamento, abaixo somente do Capitão Weaver, um militar aposentado. Na tentativa diária de sobreviver e de manter as pessoas a salvo, eles enfrentam com poucos recursos as ameaças daqueles que chamaram de Mechs (robôs fortemente armados) e de Skitters (criaturas alienígenas de seis pernas e uma aparência monstruosa). A série não demora a mostrar que há outra espécia alienígena dentre os invasores e que parecem, de fato, serem os líderes da invasão; e que as crianças sequestradas estão sendo escravizadas com uma espécie de parasita que controla seu centro nervoso.

Como dito anteriormente, o clima do seriado não é o mesmo visto em grandes produções como Independence Day ou Guerra dos Mundos. A invasão não está acontecendo; ela já aconteceu. Não há mais como salvar o planeta da destruição. Tudo isso já passou. O apocalipse já se deu. Portanto, não se deve olhar para a série esperando grandes batalhas aéreas, mas sim um clima de mundo desolado e de sobrevivência. E, neste aspecto, Falling Skies está muito mais próximo de The Walking Dead ou de produções focadas em zumbis. Parece estranho, mas a ambientação de que o grande inimigo, muito mais poderoso e já dominante, é a mesma. E, neste momento, tudo o que se entende como modo de vida está comprometido. A raça humana passa a ser acuada e sua estrutura social é profundamente modificada.

Curioso ver como produtos de entretenimento americanos sempre retratam uma sociedade devastada sobrevivendo e conseguindo progredir a partir de conceitos semelhantes a uma idéia comunista de divisão de trabalho e compartilhamento de recursos. Fosse a mesma lógica de dominadores e dominados do capitalismo, focos de resistência à processos de extermínio jamais conseguiriam prosperar. E, desta forma, pode-se comparar a 2ª Mass com qualquer grupo de sobreviventes dos filmes de George Romero. Coincidência, ou não, as crianças que são tomadas pelos invasores se parecem muito com zumbis recém-transformados, mantendo suas feições e seus traços físicos, mas totalmente privados das emoções humanas de outrora. Tudo isso, contudo, com uma roupagem sci-fi muito bem construída, com efeitos especiais coerentes e um desenvolvimento da história bastante interessante. Até porque apenas 10 episódios por temporada permitem que não haja necessidade da chamada "barriga", ou, em outras palavras, de enrolação. O grupo todo de personagens centrais tem relevância e permitem um aprofundamento cada vez mais acentuado, o que abre espaço para tantas outras temporadas que vierem.

Curioso também que, neste mesmo paralelo com filmes e séries de zumbis, Falling Skies muitas vezes abdica de mostrar os ETs o tempo todo. Há episódios que eles sequer dão as caras. Muitas vezes, o inimigo de outro mundo não é nada comparado ao cara que está ao seu lado e que supostamente luta pelos mesmos objetivos. Não foram poucos os momentos onde sobreviventes tiveram que enfrentar ou se defender de outros humanos na busca pelo dia seguinte, pelo pão ou pela sua família. Com essa idéia de focar na construção de relações humanas pós-fim do mundo é que a série se destaca dentre tantas outras produções com a mesma temática. Isso pode agradar muitos, mas também desagrada tantos outros

Como balanço final da primeira temporada, Falling Skies se mostra interessante e apresenta um grande potencial de ser realmente uma série memorável. Os personagens ainda não são tão cativantes a ponto de o espectador se importar verdadeiramente com eles, o que é uma falha grande quando a produção se foca exatamente neste ponto. Contudo, o desenrolar de novas temporadas tende a nos aproximar da vida e da intimidade de cada um deles, os humanizando e, assim, tornando-os caros. O final do último episódio abre uma brecha curiosa sobre como o protagonista irá seguir adiante e, mesmo o season finale não sendo bombástico (em todos os sentidos), cria uma boa expectativa para o que tem por vir. Tomara que estes ETs sejam menos burros que tantos outros e saibam instalar anti-virus nos seus computadores e tomem direitinho as suas vacinas contra bactérias terrestres. Ninguém consegue atravessar o universo e destruir uma civilização sem ser esperto o bastante para se preparar para coisas assim...
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