quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

[ Review ] Batman - O Cavaleiro das Trevas (Partes 1 e 2)


  Depois do estrondoso sucesso da trilogia em live action orquestrada por Cristopher Nolan e estrelada por Christian Bale, o subtítulo O Cavaleiro das Trevas faz com o nosso imaginário coletivo remetam imediatamente ao segundo filme, co-estrelado por Heath Leadger como o icônico Coringa. Mas não é deste (ou dos outros dois filmes da trilogia) que este texto trata. Aqui, a leitura é sobre as recentes animações lançadas diretamente para o mercado de home video DC/Warner, que trata da adaptação em animação da lendária HQ de Frank Miller, a qual retrata um Bruce Waine mais velho, aposentado e tendo que retornar à ativa por uma série de fatores externos e, principalmente, internos a ele mesmo e ao monstro que criou.


Pode-se dizer que a animação é um longa de quase duas horas e meia dividido em duas partes muito bem marcadas. A primeira trata da volta do homem-morcego e de seu embate com uma associação de criminosos auto-intitulados Os Mutantes. Na verdade, tudo uma grande - e muito bem estruturada - preparação para o segundo ato e o confronto direto com aquele que, sem dúvidas, é o maior vilão do universo do herói. É, portanto, muito bem organizada e articulada, com algumas citações clássicas da HQ de onde se originou, ainda que com um traço já bastante tradicional no que consta as últimas animações lançadas pela Warner para o universo DC, como Batman: Ano Um, Superman e Batman: Inimigos Públicos, Lanterna Verde: Primeiro Vôo e outros bons produtos realizados nos últimos anos. Contudo, esse traço o distancia da obra-base, o que resulta também em uma incompatibilidade com a temática.


A segunda parte conta com o esperado embate entre Batman e Coringa, com um final surpreendente, mas conta também com a participação de outros heróis do universo DC, o que não chega a descaracterizar o material, mas de certa forma divide a narrativa em partes menores, diminuindo inclusive o impacto da volta do alter-ego de Waine ao mundo de Gothan City e o seu maior desafio. Vê-se também a preparação de um novo personagem assumindo o uniforme de Robin (apresentado brevemente na primeira metade) e outras questões mais políticas, sempre por meio da mídia, sobre a função desta figura controversa, nem mocinho nem bandido, na sociedade. Gordon está em meio ao processo de aposentadoria e também tem um papel fundamental na narrativa e até mesmo Selina Kyle aparece fazendo uma ponta (que não deixa de ser hilária, já que, afinal, a Mulher-Gato também envelhece)

Na contagem final, são duas ótimas animações (que valem a pena serem assistidas juntas, como uma unidade mesmo). A Warner foi corajosa em assumir os riscos de incluir trechos bem violentos e temas um pouco mais densos (chegando a discursos bem acadêmicos de um dos detratores do herói) e sequências de ação bem desenvolvidas. Não foi tão corajosa assim, já que excluiu muito do material original mais pesado e não arriscou trabalhar com um novo traço (talvez tentando manter uma organicidade entre seus vários longas animados). As comparações com o último filme de Nolan são inevitáveis, mas desnecessárias. Ambas beberam nas mesmas fontes e apresentaram conteúdos diferentes e igualmente bons. Espero que a empresa continue nesta linha e mantenha o lançamento de animações com esta boa qualidade que, se não são obras-primas e nem vão fazer história, estão muito a frente em estabilidade se comparadas às incursões destes personagens no cinema de carne-e-osso (sim, estou falando de você, Ryan Reynolds).

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

[ Review ] Fringe

Depois de cinco temporadas, chega ao fim a controversa série Fringe (exibida na TV aberta brasileira sem muito alarde como Fronteiras). Em terras tupiniquins, a Warner fez uma grande maratona neste final de semana de carnaval, permitindo que se visse, de uma vez só, os 13 episódios da temporada derradeira. Nada mais lógico, levando-se em conta que este quinto ano nada mais foi do que um grande filme em 13 partes. Foi feita pra isso, planejada exatamente para ser o desfecho para a série que, muitas vezes, esteve a perigo do cancelamento sem uma conclusão digna, graças aos números nunca empolgantes da audiência americana.

Contexto de lado, este texto se pretende uma reflexão sobre a série como um todo, desde seu primeiro e grandioso episódio e o primeiro evento Fringe no qual Olivia se envolveu, até o sacrifício de Walter para que seu filho e a agente do FBI pudessem viver o seu felizes para sempre. A primeira consideração me parece óbvia: não houve um grande arco planejado para a série como um todo. Ou seja, não houve um elemento que fosse criado desde o princípio para ser resolvido, mesmo que parcialmente, até o final do seriado. A temática, mesmo ela, foi mudando ao longo do tempo. Deixamos de acompanhar eventos estranhos e isolados da ciência de borda, por assim dizer, para acompanhar questões como paradigmas temporais, mundos alternativos e futuro apocalíptico.

Claro que, desde sempre, os observadores estavam lá. Sempre foi uma das grandes diversões encontrar o sujeito em cada episódio exibido, presenciando o tal evento bizarro. Mas não acredito que isso seja uma marca de iniciar ali a trama que os envolveria em uma invasão e os transformaria nos grandes antagonistas da temporada final. Talvez, se formos por outro caminho, o grande arco foi mesmo o desenvolvimento das relações entre Peter e Walter enquanto filho e pai, bem como no amadurecimento de Olivia e seus conflitos internos. Em outras palavras, assim como o caminho escolhido para Lost (curiosamente, também originado na mente nerd de J. J. Abrams), Fringe se focou no desenvolvimento e no aprofundamento de seus personagens.


Ainda assim, foi muito interessante ver alguns pontos da série serem retomados ao final, ajudando a compor um grande ciclo, como as viagens entre universos paralelos, alguns eventos que fizeram parte das temporadas anteriores (com direito a observador flutuante, cérebro de homem-porco-espinho e rostos cicatrizados ao extremo) e o famigerado Cortexiphan, cada qual com sua função narrativa, ao mesmo tempo que gerava uma espécie de fan service. Mesmo a Gene esteve presente em um dos vários momentos emotivos de despedida que marcaram principalmente a metade final da quinta temporada.

Mas, de fato, talvez o que possa ter incomodado mais seja a fragilidade do plano final de Walter. Tratado o tempo todo como a salvação praticamente infalível do mundo, o plano se baseava na aposta que as pessoas do futuro mudariam de ideia no rumo de suas pesquisas científicas ao verem o garoto que desenvolveu inteligência superior conjugado à emoção. Ora... e se eles simplesmente concordassem que o garoto era mesmo só uma anomalia? E se Walter não conseguisse conversar com eles? E se o menino simplesmente fosse atropelado no caminho? Para um cientista brilhante e uma série que lhe dá com o improvável, mas ainda assim científico, faltou um pouco de lógica no plano onde todos investiram todas as fichas.

Enfim, com todos os deslizes, as mudanças de rumo e as derrapadas na audiência, com todas as críticas e as comparações (inevitáveis) com Arquivo X e Lost, com todas as piadas de Walter e as caras sofridas de Olivia, Fringe se mostrou uma ótima experiência. Não é perfeita, nem o foi em sua temporada final, mas nem por isso deixa de estar acima da média no que consta os seriados americanos. Ótima ficção científica em dias onde o tema está bastante esgotado pela televisão. Ótimo também o fato de terem dado a oportunidade dos produtores fecharem a série com planejamento (e não cancelando quando não haveria mais tempo, como ocorreu com Heroes e tantas outras). Que seja um bom exemplo a ser seguido.




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