segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Brasilianas - Manhã na Roça - Carro de Bois (1956)


O carro de bois, analisando a trajetória de Humberto Mauro após seus últimos filmes, tanto longas-metragens quanto curtas, parece ser dos seus temas mais bem quistos. Neste capítulo das Brasilianas, este carro é o destaque em uma manhã comum da roça. Seu som dá o ritmo da música que acompanha as tarefas triviais de um dia, seja ele qual for, de um brasileiro que vive da terra. Uma belíssima paisagem, como é comum nesses em todas as Brasilianas, é o cenário para homens ararem a terra, capinarem o mato ou tirarem leite. Os animais, tais como bois, galinhas e porcos, são protagonistas aqui também. A música gentil entra na mesma sintonia que o tempo único do campo, até o surgir do galinho garninzé, que se mostra dono do lugar. Desafia o galo maior e, em uma tensão, sai vitorioso. A ordem está re-estabelecida e a manhã segue seu caminho.
O carro de bois é montado pelos homens. Aqui, uma narração didática explica um pouco mais deste dispositivo tão comum e tão útil para o homem do campo. É onde se carregou muito do que construiu o Brasil. É como se estivéssemos em dívida com ele. O instrumento, aqui, toma lugar central em Manhã na Roça. É como se, sem ele, o filme nem existiria. O título se justifica. Não haveria manhãs como essa sem o carro de bois.

Ficha Técnica Título: Brasilianas: Manhã na Roça - Carro de Bois
Duração: 8 min
Ano: 1956
Gênero: Documentário
Cor: PB
Direção: Humberto Mauro
Fotografia e Montagem:
José de Almeida Mauro
Arranjo: Maestro Aldo Taranto

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Brasilianas - Cantos de Trabalho (1955)


Cantos de Trabalho
abre com um texto introdutório, onde diz que “canto de trabalho é música para suavizar e alegrar as tarefas braçais. As cantigas de trabalho, inspiradas na própria tarefa, existem em todo o Brasil, e nelas se encontram muitos dos mais belos fragmentos do folclore brasileiro”. Percebe-se novamente a intenção de destacar o país. É um costume estritamente brasileiro, que faz parte da brasilidade. Aqui, Mauro resume exatamente qual o sentimento que se terá ao final dos pequenos trechos que formam este filme: o trabalho braçal é árduo, mas a música suaviza, poetiza o suor dos que trabalham.
É assim que somos introduzidos ao primeiro canto, onde a mulher, ao socar o pilão, entoa “tanta gente pra ‘comê’ e eu só pra ‘socá’”. O trabalho repetitivo e o ritmo das batidas no pilão entram em consonância com a música, tornando tudo uma única coisa. É como se um dependesse do outro e de tudo isso, os pratos suculentos que sucedem do trabalho e que finalizam o trecho. Comidas tipicamente brasileiras, como aquelas pessoas que as fizeram. Quando homens, com os mesmos movimentos, utilizando um socador, agora firmando a terra onde pisam cantam “e bate o pilão, arueira”, o ritmo também se impõe aos trabalhadores e o sol quente que da pele deles faz escorrer o suor não parece tão forte quanto os homens que, filmados em planos próximos e em contra-plongée, se agigantam e, como em poucos momentos nas Brasilianas, tem rosto, tem identidade.
Na cantiga do barqueiro, que atravessa solitário o rio dentro de sua canoa furada, ele não só encontra as dificuldades que a própria atividade lhe impõem, como também parece sofrer mais com a distância da amada, que se despede dele a cada partida com um lenço branco na mão, tal como as descrições das esposas dos grandes navegadores em nossos livros de história. Para o barqueiro, cada dia é uma jornada, uma “grande navegação” com o barco cheio d’agua. Sua cantiga é mais triste, mas não menos bela e suave.


Trecho de Cantos de Trabalho


A cantiga de pedra, que apresenta homens trabalhando em uma pedreira, cortando, quebrando e carregando grandes rochas, tem uma batida mais forte, tal como o trabalho exige. “Oi companheiro oi, oi levanta a pedra, oi” é entoada por todos os trabalhadores, que se mostram unidos exatamente pelo “companheiro” da letra. Tal amizade é mostrada quando cada um ajuda o outro na tarefa, fazendo-a parecer menos difícil. A pedra carregada por muitos não parece tão pesada. Estes homens também nos são apresentados em planos próximos, tomando uma identidade, se impondo diante uma natureza forte e ríspida. Ao final do dia, guardam-se as ferramentas. O trabalho está feito. A missão do dia terminou.
Em todos os blocos, ou trechos, percebe-se o homem ou a mulher colocados em um lugar de destaque diante a natureza. Aqui, suas ações mudam o ambiente do qual fazem parte. Ainda que gente simples e em trabalhos braçais, tem o poder de recriar. E é exatamente esse brasileiro que Mauro quer mostrar ao Brasil. O homem da terra, trabalhador, forte, determinado. As pessoas constroem o seu lugar. Modificam-no. Unidos pelo trabalho ou sacrificando-se por este, os grandes homens, os verdadeiros brasileiros, constroem seu país. Cantando, como é típico deste povo.

Ficha Técnica
Título: Brasilianas: Cantos de Trabalho
Duração: 10 min
Ano: 1955
Gênero: Documentário
Cor: PB
Direção: Humberto Mauro
Roteiro: José Mauro
Fotografia e Montagem:
José de Almeida Mauro
Arranjo: Maestro Aldo Taranto

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Brasilianas - Engenhos e Usinas (1955)


Talvez dos mais didáticos desta série, este filme narra poeticamente a beleza dos velhos engenhos, movidos pelas corredeiras mansas de riachos, onde novamente homens e natureza fazem parte de um único todo. Ao som de “engenho novo bota a roda pra ‘rodá’”, a alegria do engenho antigo funcionando em consonância com todo o ambiente, onde homens cortam a cana, os carros de boi - outro tema recorrente nesta fase de Mauro - carregam a matéria-prima para que o engenho faça sua parte. Contrasta, por outro lado, com as gélidas e mecânicas usinas, onde o tom industrial soa como desafiadora à ordem e a verdadeira vida do homem brasileiro, ligado à terra, à água, a madeira. O metal não faz parte de tudo isso. Ele não é daqui, deste lugar. A indústria também não. “O engenho parou e, com ele, parou a poesia” diz a narração enquanto o vapor parece tomar o lugar intocável do engenho. Cheio de teias de aranha e triste, o velho moinho não funciona mais. Um final triste para o que estritamente bom. Mas eis que em um renascer, a narração se recupera ao dizer que “mas em muitos pontos eles continuam”. Eles, os velhos engenhos, ganham vida como num repente. A música e a alegria fecham o filme com uma positividade de que ainda há esperança. Ainda há, sobretudo, o Brasil surgindo do campo.


Ficha Técnica Título: Brasilianas: Engenhos e Usinas
Duração: 8 min
Ano: 1955
Gênero: Documentário
Cor: PB
Direção: Humberto Mauro
Fotografia e Montagem: Luiz Mauro
Arranjo: Maestro Aldo Taranto
Interprete: Os Cariocas

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Brasilianas - Aboios e Cantigas (1954)


Continuando a série de análises dos curtas que compõem a série Brasilianas, pode-se destacar, nessa postagem, Aboios e Cantigas. Aqui, a música única e solitária dos filmes anteriores dá espaço primeiramente para o texto silencioso e didático de explicação do que significa a palavra “Aboio”. O tom poético, porém, não é menor. “Aboio é o canto com que o vaqueiro acalma a boiada. É melodia de caráter suave, um som prolongado e macio que tem como que o dom de transformar o bravo em manso...” diz o texto. Ao fundo, os primeiros aboios podem ser ouvidos. O vaqueiro, ao longe, procura o seu gado, aboiando. Os planos próximos evidenciam o elemento principal do filme: o gado. Todos eles, os bois, parecem atentos, ouvindo o vaqueiro chamá-los. O gado se agita – e a música de fundo também – e se põe a seguir o aboio e, aos poucos, vão se juntando até alcançar o caminho de volta ao currau. O boiadeiro continua distante, longe, e o gado o segue. O seu rosto não é importante. Sua voz sim.
Por meio de um costume iminentemente brasileiro, Humberto Mauro mostra que ainda que parta de um todo, o homem está presente, comandando o meio que o cerca. A terra, porém, é a sua mãe e sem ela, ele nem estaria lá. Enquanto o gado vai se acalmando ao passo em que o vaqueiro tem o comando doce, a música se tranqüiliza também. Um novo texto surge, anunciando que o gado está sendo levado para um dos currais para a apartação, ou separação. Lá, o homem se faz presente, impondo-se. Tem rosto e tem o domínio. Seus gestos parecem imperativos e a criança que lá está os imita, demonstrando a continuidade sem fim da tradição da vaquejada.
Aqui, um novo texto antecede as cantigas populares que vão surgindo ao fundo, apresentadas como romances que surgem da tradição da vaquejada. E se Humberto Mauro toma o campo como microcosmo do verdadeiro Brasil, isso fica evidente quando anuncia que “Essas cantigas como as de aboio e apartação constituem das mais belas melodias do folclore brasileiro”.

Ficha Técnica
Título: Brasilianas: Aboios e Cantigas
Duração: 10 min
Ano: 1954
Gênero: Documentário
Cor: PB
Direção: Humberto Mauro
Fotografia e Montagem: José Almeida Mauro
Arranjo: Maestro Aldo Taranto
Interprete: Os Cariocas

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Brasilianas - Azulão e O Pinhal (1948)


Em Azulão pode-se encontrar uma continuidade dos filmes anteriores e uma redenção ao pássaro preso. No início do filme, um homem, agora em plano médio, tira o pássaro de uma gaiola e o solta pela janela. A interferência do homem é corrigida e o Azulão ganha a liberdade, podendo assim seguir fazendo parte daquele ambiente. A música que o acompanha fala de um amor passado. O pássaro pode então buscar o que foi deixado e recuperar o que parecia perdido no tempo. Os planos que se seguem são novamente de contemplação, abertos e belos, mostrando a grandeza de um campo quase que intocado. O Azulão tem todo um mundo para voar.

Já em O Pinhal, novamente a calma e o ambiente dão o tom do filme. A casa ou o casal distantes parecem pequenos demais diante a grandeza do imponente pinhal, presente por todos os lados. São vários e ao mesmo tempo somente um. Ele é onipresente. E mesmo que o lenhador o ataque com o seu machado, o pinhal não cede. E não cai. É a vitória da natureza sobre o homem. O Pinhal estará sempre lá.

Ficha Técnica
Título: Brasilianas: Canções Populares - "Azulão" e "O Pinhal"
Duração: 8 min
Ano: 1948
Gênero: Documentário
Cor: PB
Direção, Fotografia e Montagem: Humberto Mauro
Arranjo: Maestro Aldo Taranto

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Brasilianas - Chuá Chuá e Casinha Pequenina (1945)


Durante sua passagem pelo INCE - Instituto Nacional de Cinema Educativo (para saber mais, acesse aqui um artigo sobre o órgão), Humberto Mauro teve a oportunidade de tratar em seus filmes o seu tema mais caro: o Brasil rural. O conjunto de curta-metragens
Brasilianas é comporto por alguns deles.
O primeiro dos filmes desta série, Chuá Chuá, como a própria onomatopéia anuncia, é uma homenagem às corredeiras calmas, de água límpida e movimento suave. A música popular que acompanha o curta dá o tom de tranqüilidade e as imagens praticamente ilustram a sua letra, acompanhando o ritmo sossegado do campo. Como o próprio cantor evoca, “a fonte 'canta' chuá chuá”. O ambiente é todo tomado de planos abertos, e mesmo as figuras humanas só estão lá como parte de um todo. O campo é o personagem principal e tudo, sem exceções, faz parte. Os planos próximos são direcionados única e exclusivamente no córrego, em várias tomadas diferentes. Um destaque importante são as gaiolas. Em um ambiente onde tudo parece estar em harmonia com a terra, com aquele “chão”, a limitação dos pássaros em pequenos espaços destoa do perfeito equilíbrio. A presença do homem, mesmo em um ambiente extremamente ligado com a natureza, se fizesse perceber.
Mesmo em Casinha Pequenina, onde o tema não é exatamente a moradia, mas sim o amor que lá nasceu, novamente há a referência do pássaro preso em uma gaiola. A música, quase que no mesmo ritmo calmo e suave da anterior, celebra o amor e, nesse momento, um casal de enamorados surge na cena, novamente como parte de um todo, mas interferindo. Carregam madeira cortada, certamente para o fogão de lenha. Diante à beleza do córrego, remetendo a Chuá Chuá, eles param e se prestam a deixar o trabalho de lado para poder namorar à beira d'agua. A corredeira, aliás, dita o ritmo e o movimento do lugar. O campo, a roça, o chão, a terra ilustram as canções populares tipicamente brasileiras. Em ambos os filmes, nota-se uma certa nostalgia do autor, remetendo a um tempo que parece ter passado. Ao mesmo tempo, tem-se a impressão de atemporalidade. Não há datamento dos elementos e o filme parece, mesmo nos dias atuais, um retrato da vida e do ritmo do campo.


Ficha Técnica
Título: Brasilianas: Canções Populares - "Chuá Chuá..." e "Casinha Pequenina"
Duração: 7 min
Ano: 1945
Gênero: Documentário
Cor: PB
Direção, Fotografia e Montagem: Humberto Mauro
Arranjo: Maestro Aldo Taranto

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Ringu (Hideo Nakata, Japão, 1998)

Reiko Asakawa decide iniciar uma investigação sobre a misteriosa morte de um parente e descobre então que a possível causa é uma fita de vídeo que, ao ser assistida, estabelece um prazo de sete dias para o espectador morrer. Sua busca para descobrir a verdade sobre a tal fita se torna um desespero quando ela mesma, seu marido e seu filho também assistem ao vídeo e coisas estranhas começam a acontecer. É quando ela chega a Sadako, e ao conhecer um pouco da história do espírito que parece habitar o vídeo, tenta de qualquer forma passar pela maldição antes que o seu prazo termine.
Ringu, com uma produção modesta para os padrões dos filmes de grande bilheteria no mundo (cerca de US$1,2 milhões), vindos principalmente de Hollywood, foi um estrondoso sucesso no Japão, se tornando uma produção absolutamente crossmedia, já que consegue abarcar, além do próprio cinema com o filme original e suas continuações, também a TV e os quadrinhos, sem contar o romance no qual foi inspirado. Foi refilmado pela indústria norte-americana e se tornou ainda mais conhecido no ocidente, tornando-se inclusive um filme cult.
Como tem se tornado freqüente neste que acaba se tornando um gênero bastante marcante a cinematografia japonesa na atualidade, já que após Ringu houve outros filmes de relativo sucesso, que mais tarde também seriam adaptados para o cinema hollywoodiano, como as versões originais de Água Negra e O Grito, O Chamado trata de uma maldição sobrenatural, calcada em lendas urbanas muito conhecidas no oriente. Nesse caso, a tecnologia tem um papel fundamental, já que é o que se poderia chamar de “suporte” por onde a desgraça se propaga. Os sustos são marcantes e ininterruptos, ainda que a tendência do filme seja buscar a agonia do espectador sem a violência explícita com a qual estamos acostumados no grande cinema. Os efeitos digitais dão lugar a uma contínua tensão que dá o tom do terror. Os protagonistas não são os grandes salvadores do mundo, nem aqueles que irão destruir a ameaça para salvar a todos. Não há aqui uma tentativa de se vencer o mal. Somente se quer sobreviver a ele.



Título Original: Ringu
Gênero: Terror
Tempo de Duração: 96 minutos
Ano de Lançamento (Japão): 1998
Estúdio: Omega Project / Kadokawa Shoten Publishing Co.
Distribuição: Toho Company Ltd.
Direção: Hideo Nakata
Roteiro: Hiroshi Takahashi, baseado em livro de Kôji Suzuki
Produção: Takashige Ichise, Shinya Kawai e Takenori Sento
Música: Kenji Kawai
Fotografia: Junichirô Hayashi
Desenho de Produção: Iwao Saito


sábado, 22 de novembro de 2008

Mortal Kombat vs DC Universe


Mais um capítulo nesta história de mais de 16 anos acaba de ser escrito. Mortal Kombat vs DC Universe é o novo jogo de uma das séries de jogos de luta mais longevas da história dos video-games. E parece trazer os elementos de sua origem para um combate entre universos com os heróis e vilões imortalizados nos quadrinhos pela DC Comics.

Iniciada em 1992, a série Mortal Kombat completa seus onze episódios, sem contar edições comemorativas ou especiais, como Mortal Kombat Trilogy. Surgiu com uma premissa interessante e polêmica de trazer mais veracidade e violência aos jogos de luta. Violência essa evidenciada não só pelos litros de sangue jorrando do
oponente, mas principalmente pelos famosos "finish moves" ou, mais especificamente, os "fatalities", que permitem que o vencedor da batalha finalize a luta matando, das formas mais diversas possíveis, o adversário derrotado. Desde então, a franquia desenvolveu diversos capítulos, bem como foi transposto para cinema, quadrinhos e seriados animados para TV e segue arrastando uma legião de fãs pelo mundo todo. Para saber mais do enredo do jogo, cuja mitologia criada é absolutamente rica, visite aqui a página da franquia na Wikipedia.

Neste novo episódio, já abusando da tecnologia dos novos consoles Playstation 3 e X-Box 360, Mortal Kombat traz, para enfrentar os guerreiros do universo da DC para salvar o próprio, guerreiros oriundos dos primeiros jogos da franquia. Estão de volta, basicamente, os grandes personagens que ficaram imortalizados em Mortal Kombat e Mortal Kombat II, tais como Liu Kang, Scorpion, Sub-Zero e Shang Tsung. Já a DC, da mesma forma vem com seus principais heróis e alguns dos vilões que acabaram ficando mais famosos e queridos pelos fãs de HQ do que tantos outros criados pela gigante americana. Fazem parte da lista os eternos Superman, Batman, Coringa e Lex Luthor.

Segue abaixo não o trailer, mas sim um clipe, que obviamente os fãs do game criariam assim que as primeiras versões do game saissem das lojas para postarem no YouTube, com os movimentos mais adorados pelos fãs da franquia, os fatalities de cada personagem do game. Lembrando que os heróis da DC, por motivos óbvios, não matam seus adversários e, por isso, tem o que se chama Heroic Brutality. Excelent!


segunda-feira, 17 de novembro de 2008

XII SOCINE - Brasília 2008

Aconteceu, entre os dias 15 e 19 de outubro deste 2008, o XII Encontro Anual da Sociedade Brasileira de Cinema e Audiovisual - SOCINE. Tive a oportunidade de estar presente ao evento para acompanhar as mesas e debates, bem como apresentar um trabalho sobre Humberto Mauro e o cinema educativo do INCE em um contexto de nacionalismos e questionamentos do que se pretendia cinema brasileiro.



Foi um evento bastante interessante, não só por ser o maior momento brasileiro de discussão e afloramento de pensamentos sobre o cinema, como também por poder conhecer estudiosos e teóricos do país inteiro, trocar experiências e conhecer um pouco mais deste universo acadêmico bastante respeitado no país e no mundo. Ainda que eu tenha algumas reservas sobre alguns aspectos desse evento, como a dificuldade de teóricos da comunicação em se comunicarem, ou os outros campos do audiovisual que não o grande cinema um tanto quanto periféricos no encontro, foi uma experiência única e, certamente, algo que quero repetir. A respeito, escrevi um texto para a RUA - Revista Unversitária do Audiovisual, que pode ser acessado aqui - SOCINE: A convergência dos estudos em audiovisual (mas nem tanto) - , problematizando um pouco mais essas questões de comunicabilidade e a separação entre o cinema e o audiovisual.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Eu no OmeleTV!

Passou-se algum tempo, mas eu não poderia deixar de comentar aqui. O pessoal do site Omelete - Érico Borgo e Marcelo Forlani - responderam, em uma das edições do OmeleTV (videocast do site) um e-mail que enviei comentando sobre alguns problemas nas adaptações dos quadrinhos para o cinema, entre outros. Agradeço aqui pelos comentários e pela opinião de vocês. Segue abaixo o trecho onde o e-mail é lido pela Aline Rosa e comentado pelos dois representantes do mundo nerd.



Aproveitando a deixa, ainda acredito que está por vir aquele que vai trazer toda a experiência dos grandes jogos de video-game para o cinema. Talvez porque a grande sacada de um jogo seja exatamente a participação ativa na narrativa, ainda que esta participação seja, na verdade, limitada pelo próprio realizador do game. Ainda falta ao cinema, ou a quem o faz, conseguir transpor para a telona a sensação de isolamento e solidão de um Resident Evil ou a adrenalina de Doom. Se Ari Arad, como comentaram Borgo e Forlani vai começar essa revolução no cinema adaptado de jogos, vamos ver. Os quadrinhos esperaram muitas décadas para que a tecnologia e a narrativa cinematográfica conseguissem realizar boas adaptações. Quanto tempo os games terão de esperar?

Para assistir a mais edições do OmeleTV, acesse o site do Omelete aqui, ou procure pela palavra no Youtube. Pessoal do site: Valew e abraços!

Acompanhe o trailer oficial de Watchmen!

Uma das adaptações de quadrinhos mais esperadas de todos os tempos, "Watchmen" acaba de divulgar o seu trailer oficial com exclusividade no site brasileiro de entretenimento "Omelete". Escrita por Alan Moore e desenhada por Dave Gibbons, a HQ foi lançada originalmente em 1985 e se tornou um fenômeno entre os leitores. Definitivamente, Watchmen não é uma história de super-heróis tradicional, inclusive sendo considerada uma crítica metalingüística dos momentos ápice das HQs da primeira metade do século.
A adaptação para o cinema está causando muito movimento no circuito nerd do mundo inteiro. Alguns estão empolgados com o filme - e as críticas de veículos que já viram uma prévia corrobora com essa animação -, outros estão com receio da mudanças e concessões feitas para a linguagem e público de cinema... Resta somente esperar e estréia mundial em 9 de março de 2009 para saber se o filme também será um marco na história das adaptações de HQs para o cinema ou se só contará como mais uma nas incontáveis transposições dos últimos anos.

Veja abaixo então o trailer, devidamente legendado. Novamente, destaco que os créditos são todos do site Omelete, veículo onde a cobertura da adaptação está sendo completa e bastante recheada de imagens, vídeos e notícias da produção.


quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Jogos Mortais ou A Cela?

Confesso que não sou muito fã da série "Jogos Mortais", iniciada em 2004 com o título original "Saw" nos Estados Unidos. Mas sou completamente aficcionado por jogos no estilo "resolva o quebra-cabeças", principalmente os chamados "Survivor Horror", tais como Resident Evil, Silent Hill e outros do gênero. Assim, com a indicação de um amigo, o Felipe Bernardi, pude jogar esse joguinho abaixo on-line, divertido e interessante. Não sei se é parte da divulgação do quinto episódio da série de longa-metragens de JigSaw, já que este mesmo site tem alguns episódios de uma série de episódios curtos chamado "The Cell". Mas que a voz do telefone parece com a dos filmes, isso parece. Alguém tem mais informações? Segue abaixo o jogo. Divirta-se...


http://thecell.tv/game

[Atualizado] Mancada minha: a indicação desse jogo foi feita pelo grande parceiro Felipe Bernardi, que parece ser um grande expert em encontrar esses joguinhos viciantes pela internet. Valew, Felipão! [Atualizado]

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

E está chegando a hora de Lost voltar...

Pois é... no começo de 2009, a 5ª temporada de Lost promete mostrar a jornada dos chamados "Oceanic 6" para fazer o caminho inverso do que parecia ser o objetivo final do seriado. Desde o último episódio da terceira temporada soubemos que sim, alguns deles sairam da ilha. A quarta mostrou como eles fizeram isso e um pouco do que fizeram desde então. Tudo isso para chegar a conclusão de que eles deveriam voltar.


Video promocional da 5ª Temporada de Lost

O mais intrigante de tudo isso é que, no final das contas, sair da ilha não era o ponto fundamental da série, nem o doutor Jack é o centro do seriado. Aliás, percebemos que o ponto central, ou posso até dizer que a verdadeira protagonista não é nada menos do que a própria ilha. Aguardemos então os próximos episódios. E para saber dia-a-dia mais detalhes de como andam as informações, gravações e movimentações pelos lados ho Hawaii, acesse o blog do grande Carlos Alexandre Lost in Lost.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Júlio Bressane em poucas palavras

Muito já foi escrito sobre a trajetória do cineasta brasileiro que fez parte do movimento que se convencionou chamar de “marginal” e que até hoje é referência no Brasil e no mundo quando se fala em cinema de conteúdo, ou em outras palavras, do “cinema pensante”. Contudo, vale ressaltar sua carreira de rara regularidade no Brasil, produzindo mais de vinte e cinco longas-metragens rodados não só no país, mas tbm em outros países nos tempos de ditadura.
Trabalha sempre com orçamentos apertadíssimos (e poderia ser de outra forma?) e com roteiros complexos e, assim, sempre ficou distante dos grandes públicos, acostumados com a linguagem didática do cinema clássico hollywoodiano que domina o mercado de exibição em salas de cinema e até mesmo na televisão aberta no país. Filmes como "Matou a Família e foi ao Cinema" (1969), "Tabu" (1982) e "Dias de Nietzsche em Turim" (2001) são marcos de sua cinemagrafia polêmica e controversa, mesmo dentre a crítica especializada. Seu último filme, por exemplo, ao mesmo tempo que foi vaiado por parte do público em alguns festivais, ganhou prêmios e indicações das mais importantes do meio.


Cleópatra, longa-metragem de 2008


Também escreveu bem, leve, sobre diversos assuntos. Alguns dos seus textos estão reunidos em pequenas edições como "Alguns", Fotodrama" e "Cinemancia". Sempre com um olhar bem particular sobre seus motivos, o que ele deixa bem claro em seus textos ao usar a primeira pessoa e dar ênfase que tudo é a opinião dele, seus escritos são fiéis aos ideais que trascreve em seu cinema. Tal como este, aquele é absolutamente ermético.
Certamente, sua obra não foi feita para agradar, mas sim para instigar, provocar, desafiar. Conquistou respeito por meio de suas obras, que lhe deram um público pequeno, mas fiel, e uma visibilidade como a poucos cineastas brasileiros. Júlio Bressane busca, assim, não divertir, mas significar.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O Audiovisual Educativo: brevíssimo panorama no Brasil

Tal como toda a história do cinema brasileiro, sempre houve muita dificuldade financeira e política no que tange a produção de filmes e quaisquer produtos audiovisuais educativos no Brasil. Iniciativas públicas, tais como a criação, em 1936, do INCE – Instituto Nacional de Cinema Educativo, encabeçado por Edgar Roquette-Pinto e Humberto Mauro; a fundação da TV Cultura/Fundação Padre Anchieta, ou mesmo privadas, como o Canal Futura, são experiências isoladas e que constantemente sofrem com a falta de infra-estrutura ou mesmo apoio político. Ainda assim, o Brasil teve, ao longo do último século, uma produção respeitável de bons filmes e programas de TV educativos, ou mesmo didáticos, dos quais alguns foram premiados em diversos eventos pelo mundo. Contudo, outras iniciativas fazem parte desta história, como a criação de rádios educativas nos anos 1930 no Rio de Janeiro e em São Paulo, ou os diversos canais de televisão universitários espalhados por país, com pequeno alcance. Se pensarmos ainda nos primórdios do cinema, os primeiros filmes produzidos eram, em essência, documentais e tinham um intuito informativo. Muitos deles foram feitos, inclusive, para congressos científicos para demonstração de experiências, cirurgias, etc. Por uma certa perspectiva, portanto, já seriam o começo do cinema educativo, com uma linguagem própria que busca comunicar, informar e transmitir conhecimento.


Castelo Rá-Tim-Bum - TV Cultura - Década de 1990

Nos dias atuais, as inovações tecnológicas se tornaram primordiais em todo o setor audiovisual. Televisão, vídeo e cinema digitais, jogos eletrônicos, mídias interativas, internet... Tudo, de alguma forma, influencia diretamente na produção e no consumo de imagens e sons. Filmes inteiros podem ser baixados em poucos minutos em qualquer computador caseiro, muitos dos quais sem ter sequer estreado nas salas tradicionais de cinema. Mídias pirateadas são vendidas a preço de banana em qualquer esquina e a indústria fonográfica, televisiva e cinematográfica estão passando por sérias mudanças para conseguirem sobreviver. Ao mesmo tempo, o acesso a informações e materiais antes inalcansáveis está sendo alterado. Não mais uma minoria, mas um público muito maior tem condições de assistir a um filme raríssimo, ouvir uma música cujo CD não foi lançado em seu país ou ainda ler um livro esgotado.

No que tange a educação, as mídias digitais possibilitam uma gama extraordinária de recursos didático-educativos, tais como animações, músicas, livros falados, vídeos, jogos e hipertextos. A linguagem para tais recursos sofre, obviamente, alterações e recriações que buscam "dar conta" de todas as suas possibilidades. Todavia, a linguagem do cinema é a base absoluta de qualquer variação midiática. Pode ser, inclusive, relida de uma forma antes não explorada.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Sete Homens Sem Destino

Certamente, Sete homens sem destino (Seven men from now – 1956), de Budd Boetticher, é um western por excelência. Belíssimas paisagens, a temática do tal velho-oeste, a busca por foras-da-lei, duelos memoráveis... tudo filmado magistralmente e com um apuro técnico digno dos grandes clássicos. Um homem persegue sete homens que assaltaram uma transportadora em Wells Fargo. Este ex-oficial, personagem de Randolph Scott, busca vingança e justiça, já que sua esposa fora assassinada durante o assalto. Não fosse o roteiro extremamente bem escrito e bem dirigido, não teria tal destaque. Como disse Bazin:

[...] a primeira surpresa que nos dá Sete homens sem destino vem da perfeição de um roteiro que realiza a proeza de nos surpreender continuamente a partir da trama rigorosamente clássica. Nada de símbolos, nem de segundas intenções filosóficas, nem sombra de psicologia, nada senão personagens ultra-convencionais com funções do arco-da-velha, mas uma organização extraordinariamente engenhosa e, sobretudo, uma invenção constante quanto aos detalhes capazes de renovar o interesse das situações.” (BAZIN, p. 221).

Neste trecho, Bazin trata da simplicidade no que diz respeito a grandes significados e significantes que, por vezes, são procurados no cinema. A inocência do trabalho em Sete homens sem destino, que é vista justamente nos grandes filmes do gênero é que dá a beleza da obra, não buscando se justificar por questões filosóficas e/ou psicológicas. O que Bazin chamaria de “metawestern” não é visto aqui. Os arquétipos se mantêm fiéis à proposta do gênero.

Das características tradicionais do gênero, tais como as citadas no início deste texto, podemos destacar as personagens. Nota-se que as personagens femininas são, essencialmente, boas. Pode-se dizer “personagens”, no plural, já que a esposa do protagonista, ainda que não apareça durante a narrativa no tempo fílmico, mas que é citada por vários momentos, é lembrada sempre com carinho e ternura. A dama que não foi salva e que não merece outra coisa que não ser vingada. Lembranças estas que não impedem o recém-viúvo de se encantar pela esposa do viajante que encontra pelo caminho. Ainda que o romance não se complete na trajetória do filme, esse encontro é mais do que natural no universo diegético e no entendimento do público. É claro que eles irão se encontrar em um futuro muito próximo para que este romance se consolide.

[...] Nota-se, com efeito, que a divisão dos bons e dos maus só existe para os homens. As mulheres, de alto a baixo da escala social, são, de qualquer modo, dignas de amor, pelo menos de estima ou de piedade. A menor meretriz é ainda redimida pelo amor ou pela morte [...] Por isso, no mundo do western, as mulheres são boas, é o homem que é mau. Tão mau que o melhor deve, de certo modo, redimir com suas provas a culpa original de seu sexo. (BAZIN, p.203).

Na citação acima, pode-se destacar não só o pensamento de Bazin quanto à característica primordial da mulher neste gênero, como também a posição antitética do homem neste universo. A mulher e o homem são distintos entre si. Os dois lados claramente separados. Mesmo o protagonista carrega em suas costas as condições de seu sexo. Não é incomum, assim, perceber nos western o “mocinho” como um fora-da-lei. Mesmo em Sete homens sem destino, Bem Stride não é mais o xerife da cidade. Não é, portanto, o homem da lei, mas sim um vingador. Não há limites para a sua busca por vingança e, por fim, ele acaba matando um por um dos assaltantes do trem, mesmo não sendo mais amparado pela estrela da lei. “Para ser eficaz, a justiça deve ser aplicada por homens tão fortes e temerários quanto os criminosos” (BAZIN, 205).


Trecho de Sete Homens Sem Destino

John Greer, o viajante que Strider encontra em sua jornada, não é forte, nem valente e, por este motivo, sua masculinidade é questionada em alguns momentos do filme. Ele perde, na visão de Bill Masters, a condição de poder ser casado com uma dama tão formosa quanto Annie. Ainda que esta conclusão seja exposta pelo vilão que já possui um passado criminoso, sua colocação em nenhum momento é questionada, nem pelo protagonista, nem pela própria Sra. Greer. John só justifica sua masculinidade quando escolhe desafiar os seus comparsas mesmo sabendo que não havia chance de sobreviver. Sua morte é a sua redenção. O curioso é que, nesse ponto ele se assemelha mais ao perfil feminino proposto por Bazin. Não sendo um homem tal como um herói, nem delicado, formoso e essencialmente bom como uma mulher, este personagem acaba por incorporar características de ambos.

Sete homens sem destino é, de fato, um filme de gênero. Suas características são marcantes e bem determinadas. Busca, deste modo, atingir um público específico, já educado a essas características e não se pretende mais que isso. Nos dias atuais, pode-se pensar, contudo, em outras relações e diálogos com outros gêneros conhecidos. O elemento melodramático da paixão entre um recém-viúvo e a mulher casada e o conflito que ambos sofrem em si mesmos para negar esse sentimento, cuja solução clara é a morte de John Greer para que, finalmente, os apaixonados possam seguir sem culpas é sempre muito presente em filmes de diversos gêneros, mas neste caso é bastante forte. Outro gênero que só veio a ser reconhecido como tal alguns anos depois, mas que tem muitas de suas características fincadas dentre as do western é o road movie. Não só pela questão da viagem, mas também pelo que ocorre neste translado, os diversos pontos de parada e seus acontecimentos, sua evolução e a espera do grande ápice da chegada ao destino são fatores de diálogo entre estes gêneros efetivamente dados como americanos.

Este filme, como tantos outros, se mostra, definitivamente, como um grande exemplo não só do gênero western ou dos demais com os quais ele dialoga, mas sim como de todo o cinema clássico americano. Sua fidelidade com a proposta o faz coerente e, como já citado, inocente, não buscando nenhuma outra finalidade que não a de ser, enfim, um western. É assim que se pode ver o western. É assim que se pode enxergar o cinema norte-americano.


Bibliografia

BAZIN, André. “O western ou o cinema americano por excelência” In.:________O cinema: ensaios. Trad. Eloísa de Araújo Ribeiro. São Paulo: Brasiliense, 1991, p. 199-208
BAZIN, André. “A evolução do western” In.:________O cinema: ensaios. Trad. Eloísa de Araújo Ribeiro. São Paulo: Brasiliense, 1991, p. 209-217
BAZIN, André. “Um wester exemplar: Sete homens sem destino” In.:________O cinema: ensaios. Trad. Eloísa de Araújo Ribeiro. São Paulo: Brasiliense, 1991, p. 219-224

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O INCE de Humberto Mauro e a construção de um cinema educativo no Brasil


Edgar Roquette-Pinto, grande entusiasta da utilização dos meus radiofônicos e cinematográficos com fins educativos, juntamente com Gustavo Capanema, então ministro da educação e da saúde, unem esforços a educadores, higienistas e intelectuais em uma proposta de utilizar a mensagem e o aparato cinematográfico para o engrandecimento do homem. O próprio Roquette-Pinto já defende que o homem brasileiro precisa ser educado para seu engrandecimento e, consequentemente para o crescimento do país. Essa ideologia soma-se à proposta do Ministério da Educação e da Saúde, que visa melhorar o homem moralmente e intelectualmente, de forma a este ser um trabalhador mais bem-preparado e eficiente para a nação. Há assim uma intenção utópica da elevação e formação do homem em um ser pensante, livrando-o da ignorância de si mesmo e do ambiente que o cerca. Mas também há uma diretriz muito objetiva de fortalecer o Brasil e até mesmo o nacionalismo desenvolvimentista, tão aclamado por Getúlio Vargas, como diretriz de seu governo. Enfim, o que se configura é uma intenção não só educativa, mas de desenvolvimento do próprio país. Neste contexto, funda-se então, em 1936, o INCE – Instituto Nacional de Cinema Educativo, com gestão do próprio Edgar Roquette-Pinto. Ligado ao Ministério da Educação e Saúde, o instituto ainda tem como seu principal realizador o cineasta Humberto Mauro, aceitando o convite do próprio diretor. Nos primeiros dez anos do instituto, foram produzidos 244 filmes de curta-metragem sobre os mais variados assuntos, sendo de Mauro a maioria deles.


O INCE tinha como suas atribuições a filmagem, revelação, montagem, sonorização e distribuição dos filmes, bem como a tradução e adaptação de filmes estrangeiros ao contexto brasileiro. Desta forma, ainda que em condições estruturais e financeiras bem abaixo do padrão de órgãos parecidos da Europa, o instituto tinha uma estrutura completa para a produção de filmes. Aliás, ao conhecer iniciativas da mesma natureza em visita a Europa, Roquette-Pinto encontrou diretrizes diversas na França, na Itália, na Bélgica e na Alemanha, onde o cinema educativo era reconhecidamente, segundo Capanema, didático, moderno, ágil e transformador. Dentre essas iniciativas, o antropólogo percebeu na Alemanha e até na União Soviética uma indissociação entre cinema educativo e cinema de propaganda. Enquanto no primeiro o cinema de Leni Riefenstahl era visto como educativo, a mesma idéia era disseminada sobre o cinema soviético pós-revolução dos anos 20, principalmente os filmes de Serguei Eiseinstein. Ambos os paises entendem esse cinema como forma de esclarecimento da população. Na visão de Roquette-Pinto, na verdade um cinema enquanto instrumento de massificação de políticas do estado. Contudo, o cinema educativo brasileiro a ser produzido pelo INCE deveria ser livre de tais ideologias – se é que isso seria possível. Como resultado dessa visita, o Brasil é inserido no Instituto Internacional de Cinema Educativo com o seu primeiro filme, Lição de Taxidermia.


A Velha a Fiar, Humberto Mauro, 1964

Nessa primeira fase do INCE, que dura da sua fundação em 1936 até 1947, ano de aposentadoria de Roquette-Pinto da direção do instituto, produziu-se intensamente filmes educativos populares, destinados à escola primária e associações de trabalhadores; acontecimentos nacionais, tais como dias cívicos, visitas de personalidades ao país e eventos políticos – e nesse ponto o INCE assume um papel de afirmação do Ministério da Educação e da Saúde diante a máquina administrativa nacional; e, principalmente, a documentação científica, estrategicamente possibilitando a visibilidade do país perante o mundo quando ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia. No seu auge de produção, mesmo em condições precárias, o INCE se vangloria pela documentação de um Brasil moderno e de uma “inteligência brasileira”. Participa em festivais e mostras por todo o mundo, como em Veneza e Nova Iorque e ganha destaque.
Contudo, ainda que com uma produção satisfatória, tanto no conteúdo quanto na quantidade, o INCE encontrava dificuldades enormes na distribuição dos filmes fora da capital federal. Há poucas informações sobre disponibilidade de projetores nas escolas do país e, ainda que exista uma boa demanda por empréstimo dos filmes, pouco se conseguiu distribuir fora do Rio de Janeiro ou da região sudeste. A situação política do país começa a refletir na produção e na liberdade do INCE e a instituição do DIP cerceia ainda mais o trabalho do instituto. Com mudanças e pressões políticas, Roquette_pinto se aposenta do cargo de direção do INCE e a primeira fase se fecha em 1947. Humberto Mauro permanece e acaba por ter mais liberdade na sua produção até mesmo pelo distanciamento do instituto do ministério e a questão rural, ignorada nos primeiros anos, começaria então a ter um destaque maior na sua produção. O chamado segundo INCE então se inicia.
Ainda que historiografia clássica do cinema brasileiro desconsidere o INCE e a produção de cinema educativo de uma forma geral, ou mesmo a considere de menor importância, assim como o faz com o documentário e/ou filmes de curta-metragem, existe a necessidade de se estudar o INCE e seu contexto perante uma nova história do cinema brasileiro. Considerando-se que nenhuma outra produtora nacional realizou tantos filmes, nem outro cineasta brasileiro dirigiu mais do que Humberto Mauro na época de seu trabalho para o instituto, pode-se dizer que essa produção é um dos capítulos mais interessantes e importantes do cinema no Brasil. E como tal, merecedor de maiores questionamentos e estudos.


Bibliografia

GALVÃO, Elis. (2007). Humberto Mauro e o INCE. http://www.revistamoviola.com/2007/09/27/
os-documentarios-do-ince-e-humberto-mauro/. Acesso em 13 abr. 2008.

PFROMM NETTO, Samuel. Telas que ensinam: mídia e aprendizagem do cinema ao computador. 2 ed. Campinas, SP: Alínea, 2001.

SCHVARZMAN, Sheila. Humberto Mauro e as imagens do Brasil. São Paulo: Ed. UNESP, 2004.

VIANY, Alex. Introdução ao cinema brasileiro. Rio de Janeiro: Editora Revan, 1993.

Primeira postagem - O Start Inicial! (sim.. estou brincando)

É isso aí! Demorou, mas estou começando a gostar desta idéia de criar um blog. Aqui pretendo falar de cinema, de televisão, e toda e qualquer forma de audiovisual eu eu conseguir enxergar.

Creio que tentar abarcar uma infinidade de assuntos ligados e misturados à imagem e ao som pode ser uma experiência única, já que é um campo infinitamente explorável. Muito já foi escrito sobre cinema. Nem tanto foi escrito sobre televisão, jogos ou mídias digitais, ainda que a produção de material teórico para esses campos esteja aumentando vertiginosamente. O motivo para escrever mais um blog sobre o assunto é a minha vontade de participar ativamente na construção desta carga teórica. E o blog "Pensando Imagem e Som", cujo nome é inspirado no curso de Bacharelado em Imagem e Som na Universidade Federal de São Carlos, onde sou formado e atualmente estou me mestrando, é o canal de divulgação dos pensamentos fervilhantes que passam pela minha cabeça. Se distribuição e exibição são grandes desafios para o audiovisual brasileiro, então que comecemos a tratá-lo também com a produção pensante.

Portanto, eu, Paulo Roberto Montanaro, ciente e consciente de minhas atribuições e funções com os milhares de fãs que esse blog um dia, certamente, terá, assumo o comando deste barco. "E lá vamos nós", como diria a bruxa de um famigerado episódio do Pica-Pau
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