Se até aqui Humberto Mauro demonstrou muito apego ao campo e à temática rural, neste curta final da série Brasilianas ele mostra a forma como olha para o passado na roça. Dentre todos os curtas, esse seja talvez o mais auto-biográfico. O personagem que abre o filme, ao som de “que saudade da minha terra, da minha infância querida que os anos trazem mais”, é tomado em primeiro e primeiríssimo plano. É evidentemente protagonista, relembrando o passado talvez não com nostalgia, mas valorizando os momentos únicos que viveu e que só poderia viver ali, no seu campo, na sua terra. Não há uma vontade de no tempo em que poderia desfrutar daquele lugar voltar, porque lá ele já está. Ele tem saudades é da inocência de outrora, dos seus tempos de meninice, serelepe, correndo por entre as árvores e riachos, capturando passarinhos com a arapuca, sua maior vitória. As imagens ilustram o belo poema. As brincadeiras são o foco de sua saudade: estilingue, bolinhas de gude... Nada que a civilização moderna tenha conseguido alterar com suas indústrias e suas máquinas. Descansar na rede ainda é mais saboroso. Subir em árvores e brincar nas cachoeiras eram as grandes preocupações do menino. Como tanta coisa pode caber em uma infância só? Humberto Mauro se vê brincando em Volta Grande. A terra de onde saiu. A terra para onde voltou. A terra que levou ao conhecimento do Brasil com sua câmera de cinema para dizer o que é, de fato, o Brasil. Se um país de dimensões gigantescas pudesse caber em um único lugar, para Mauro, caberia naquele lugar.
Ficha Técnica Título: Brasilianas: Meus Oito Anos - Canto Escolar
Duração: 11 min
Ano: 1956
Gênero: Documentário
Cor: PB
Direção: Humberto Mauro
Fotografia e Montagem: José de Almeida Mauro
Arranjo: Maestro Aldo Taranto
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