terça-feira, 30 de junho de 2009

Dossiê Lost: John Locke

Texto de Paulo Montanaro

Locke é um desafortunado. Um homem escolhido pela vida para passar por todos os tipos de provações possíveis. Nasceu prematuro, doente e órfão de pai; foi levado para adoção pela avó. Enfrentou tragédias em sua família adotiva, foi alvo de chacota no colegial por ser mais interessado em ciências do que em esportes ou coisas mais populares. Ainda assim, negou por várias vezes aceitar um caminho para o qual estava predestinado. “Não me diga o que eu não posso fazer” é a sua resposta quando a vida lhe mostra o caminho que ele inexoravelmente deveria
seguir.
Já adulto e mais velho, Jonathan Locke trabalha em uma loja de departamentos e tem uma vida simples. É encontrado por uma mulher que diz ser sua mãe e que ele fora gerado imaculadamente. Descobre que ela tem um histórico de doença mental e que seu pai estava vivo. Mesmo com tantas privações, ele se permite ir atrás desse seu passado. É recebido de braços abertos por Anthony Cooper e se sente parte de uma família, pela primeira vez. É enganado, doa seu rim para o homem que some depois do transplante. Ao tentar superar o trauma, conhece Helen, mulher pela qual se apaixonaria e que quase se tornou sua esposa, não fosse o envolvimento de Locke novamente com eventos criminosos do pai. Tentou viver em uma comunidade onde acreditava ter encontrado pessoas que realmente poderiam gostar dele, mas novamente foi enganado, já que ajudou a encobertar uma plantação ilegal de maconha e quase matou um policial por isso. Quando encontra seu pai mais uma vez, tentando lhe convencer a não palicar mais um golpe em uma boa família, aquele mesmo homem que roubara seu rim e que o fizera perder a amada o derruba de uma altura de 8 andares, queda da qual Locke sobrevive milagrosamente, mas que lhe tira os movimentos das pernas. Trabalhando em uma companhia que faz caixas, sendo novamente motivo de riso entre os colegas de trabalho e sem mais nada na vida, ele decide ir a uma expedição. Uma viagem pela Austrália selvagem, de onde deveria voltar renovado, segundo conselho de um enfermeiro que depois descobriríamos ser Matthew Abaddon. Ao que a companhia que promove o chamado “Walkabout” nega sua jornada por descobrir que ele era paralítico e que ele não poderia fazer aquilo, Locke se revolta contra a própria condição mais uma vez. “Não me diga o que eu não posso fazer” é o que ele brada ao homem, mas o grito era quase uma explosão com o próprio mundo que lhe virara as costas. Locke era um desgraçado. Caiu na ilha no vôo 815 quando voltava da Austrália para os Estados Unidos e lá, se descobre um novo homem. Acorda com os movimentos do corpo restaurados em meio ao caos da queda. Se mostra um caçador exímio, um homem preparado para as condições extremas da ilha como nenhum outro passageiro daquele vôo, alguém que, ao contrário de todo o resto, não lutava contra aquela situação e sim a entendia como a sua verdadeira redenção. Como se aquele fosse o único lugar do mundo para ele. Como se ali ele fosse o único lugar onde era ele quem decidia o que poderia ou não fazer. Ali, ele se permitiu novamente acreditar. O homem que havia sido traído por tudo e por todos em quem acreditou continuava com uma confiança inabalável em sua crença. Um homem de fé, se antepondo ao homem da ciência, Jack, que àquela altura se tornava o líder do grupo de sobreviventes. Tal como o filósofo de quem herdou o nome, John era a ponte, na ilha, entre a civilização que o desprezara e a natureza que o abraça na ilha. Locke passou por todas as provações possíveis, e sempre acreditou. Acreditou nas pessoas, acreditou na ilha e, principalmente, acreditou em si. Acreditou que poderia decidir, ele mesmo, o seu caminho. Mas só esteve em paz consigo mesmo quando passou a acreditar que havia algo maior que ele que deveria ser feito. Teve fé, mesmo não sabendo em quê exatamente. E foi capaz de dar a vida pelo que acreditou. Na ilha, continuou sendo traído pela própria crença. Foi baleado, foi ferido, foi enganado, foi renegado, foi acusado... Mas a sua crença se tornou inabalável. Somente ele poderia dizer o que ele era capaz de fazer. Depois de dar a vida, o que mais pode-se esperar do homem da fé?

Pitaco da Karen

É impossível não pensar em Locke e sentir uma certa melancolia. A complexa equação formada por abandono e muita ingenuidade resultou em uma das mais marcantes figuras da TV.

Ele chega à Ilha com a fragilidade emocional renovada por um milagre. E pronto para o que considera sua grande missão. Mas nada foi fácil. Locke viu suas certezas se dissiparem com o t
empo. Foi enganado pela Ilha e se tornou o sacrifício maior, só não sabemos ainda para que. Parece estar morto. Será este o fim do personagem? Eu acho que não...

Esta postagem é parte da parceria feita entre o blog Defenda a Ilha, da Karen, e o Pensando Imagem e Som.

4 comentários:

Kamila disse...

Para mim, o Locke é o personagem mais interessante de "Lost". Acho que é ele quem guarda o segredo da Ilha.

Equipe ToonSeries disse...

Muito bom, começaram muito bem, por um dos melhores personagens de Lost e um dos meus favoritos sem dúvida, (não é a toa que o boneco dele está na minha mesa no trabalho hahaha).

Essa frase dele, "Don't tell me what I can't do", meu deus, até arrepia quando eu escuto, está no mesmo nível de outra notória frase de Lost - "Live together, die alone", por essas e outras que, com certeza, Lost sempre será a melhor série de Tv de todos os tempos.

Abraços

Ricardo Braga
Equipe ToonSeries

Cris França disse...

Querido tem um selinho pro seu blog lá no Cinema Paradiso..aceitas?
abraços

Paulo Montanaro disse...

Kamila: Tbm acho que ele é o personagem mais cativante e com uma trajetória completamente cíclica dentro da série. Vamos ver o que será dele nesta última temporada, né...

Equipe ToonSeries: Valeu mesmo pelo incentivo, Ricardo. Realmente, essa frase do Locke é a mais marcante para mim. Pela trajetória dele, alguém mais tem coragem de dizer para ele o que ele não pode fazer?

Cris: Muito obrigado pelo presente! Já está lá! Uhuuuu!

Há braços
Paulo

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