O universo medieval e a fantasia sempre foram fonte de grandes histórias épicas e criações extraordinárias. J.R.R. Tolkien e seu universo já consagrado em tantas obras (desde a clássica trilogia O Senhor dos Anéis até outras obras que se ambientam neste mesmo universo, como O Hobbit - a caminho do cinema - e O Silmarillion, dentre tantas outras) é talvez o maior expoente deste nicho, mas está muito longe de ser o único. C.S. Lewis e a grande obra As Crônicas de Nárnia (que não obteve, no cinema, o mesmo sucesso da trilogia dirigida por Peter Jackson, mas que também se tornou bastante conhecida), Christopher Paolini e a saga que se iniciou em Eragon (que também não foi feliz na sua adaptação para as telonas) e Licia Troisi e suas Crônicas do Mundo Emerso são outros dos muitos exemplos onde mitos e criaturas fantásticas se encontram com espadas, reinos, cavaleiros e armaduras. Game of Thrones, série da HBO baseada na série de livros As Crônicas de Gelo e Fogo (ou originalmente A Song of Ice and Fire) de George R. R. Martin, também se propõe a explorar essa espécie de gênero, ou subgênero, ao mesmo tempo que consegue estabelecer uma identidade própria, distanciando-se assim das outras obras citadas anteriormente, ao mesmo tempo que mantém uma sensação de familiaridade em seu público.
Basicamente, a primeira temporada segue alguns arcos bastante distintos, mas todos girando em torno no poder, representado pela monarquia que comanda os Sete Reinos de Westeros. Acompanhamos as famílias Stark, Lannister, Baratheon e Targaryen, além do povo Dothraki em suas caminhadas, que se cruzam no passado e no presente em torno do tão desejado Trono de Ferro. Conhecemos espaços como o Porto Real, capital dos Sete Reinos; A Muralha, última proteção ao norte; Winterfell, terra dos senhores do norte; e tantas outras cidades e povoados que nos mostram a extensão e a diversidade deste universo criado por Martin. Nomes de personagens e lugares parecem bastante complicados de se aprender no início, mas naturalmente, ao longo destes 10 primeiros episódios, o espectador passa a conviver com os eles e reconhece-los. O desenvolvimento de cada um deles se dá de forma muito interessante e cada um tem sua jornada pessoal bem explorada. Ainda que seja um mundo complexa, a série é bastante feliz ao trazer o público para si e para os dramas pessoais vividos naquelas terras. E a belíssima abertura é um espetáculo à parte ao montar, quase que em maquete, os espaços que vamos conhecendo ao longo do percurso. Não é necessário sequer aquelas grandes paisagens exploradas por Peter Jackson, por exemplo, para se ter a dimensão dos Sete Reinos de Westeros. Ponto para os criadores que resolveram essa questão de forma muito criativa e não menos fascinante.
Além dos personagens, a trama também se desenvolve com uma facilidade quase que natural. Tudo se encadeia de modo bastante orgânico, funcionando em seus contextos sem parecer forçado. A separação de cada família também garante que, mesmo havendo tantos membros em cada Casa, os indivíduos tem, cada qual, a sua personalidade única, suas motivações e seus caminhos diferenciados. Ainda que há um certo protagonismo da família Stark, não há lados bom e ruim. Há influências familiares, claro, nas ações de cada personagem, mas há também aquilo que os torna únicos. O então alardeado jogo dos tronos se dá exatamente pela diversidade de intenções e consequências das ações de cada um. E exatamente por essa característica, não se pode eleger o herói e o vilão da história desde já, com tantas nuances entre todos eles ocorrendo o tempo todo.
Cada episódio deixa claro, por meio de suas escolhas, que não se deve esperar que, ao final de sei-lá-quantas temporadas, um ou outro seja eleito o rei e viva feliz para sempre. O penúltimo episódio é bastante corajoso ao mostrar que não há receio de se inverter papéis arquetípicos entre todos os personagens. Assim, é aqui que a história consegue estabelecer sua identidade. A jornada do herói, bastante conhecida deste e de tantos outros universos, não pode ser prevista. Ao mesmo tempo que sabemos quem será aquele pelo qual torceremos em histórias tradicionais, e que no fundo sabemos que será ele a salvar o dia, em Game of Thrones nada disto fica claro, aumentando então a tensão de que tudo pode acontecer.
Esta primeira temporada, contudo, deixou alguns (poucos) fãs um tanto quanto decepcionados pela falta de batalhas grandiosas e grandes embates entre as Casas antagonistas. Pode-se dizer que, no cinema, o climax destes combates é bastante necessário. Em O Senhor dos Anéis, por exemplo, cada um dos filmes exigia uma batalha épica por filme. No entanto, em um seriado que pode durar alguns anos e tantas horas mais, é fundamental que se guarde esse momentos para situações que realmente devam ficar marcadas como grandiosas. Até porque a batalha seguinte, nestes casos, precisa ser, necessariamente, maior, mais sangrenta, mais violenta, com mais gente lutando (e morrendo). Isso seria insanamente difícil de se fazer toda temporada. Assim, gostei bastante das escolhas da produção em explorar a personalidade de cada personagem e os desdobramentos de suas ações nesta temporada de apresentação.
Os efeitos especiais estão absolutamente apropriados, sem nenhum exagero, trazendo ainda mais realismo à trama, mesmo esta tendo elementos tão sobrenaturais e fantásticos como uma boa história como essa pede. A direção de arte é muito competente na sua proposta, não devendo nada para nenhuma superprodução do cinema, trazendo referências de tantas culturas diferentes, mas mantendo aquilo que nos é tão familiar. O elenco também mostra muita segurança nas nuances da construção de personagens tão complexos. Nomes como Sean Bean (que parece ter nascido para atuar nesse tipo de produção, lembrando muitas vezes sua competente atuação no primeiro SDA), Lena Headey (depois do épico 300 e de sua participação no seriado de O Exterminador do Futuro como Sarah Connor, em uma reconstrução muito interessante de uma personagem bastante cultuada e que, em muitos momentos, salvou a série) e Mark Addy trazem ainda mais respeito à série. Mais uma vez, o esmero da HBO se reflete na qualidade estética e narrativa de sua produção. Definitivamente, Game of Thrones é recomendação máxima, principalmente em um ano de estréias bastante medianas.
Basicamente, a primeira temporada segue alguns arcos bastante distintos, mas todos girando em torno no poder, representado pela monarquia que comanda os Sete Reinos de Westeros. Acompanhamos as famílias Stark, Lannister, Baratheon e Targaryen, além do povo Dothraki em suas caminhadas, que se cruzam no passado e no presente em torno do tão desejado Trono de Ferro. Conhecemos espaços como o Porto Real, capital dos Sete Reinos; A Muralha, última proteção ao norte; Winterfell, terra dos senhores do norte; e tantas outras cidades e povoados que nos mostram a extensão e a diversidade deste universo criado por Martin. Nomes de personagens e lugares parecem bastante complicados de se aprender no início, mas naturalmente, ao longo destes 10 primeiros episódios, o espectador passa a conviver com os eles e reconhece-los. O desenvolvimento de cada um deles se dá de forma muito interessante e cada um tem sua jornada pessoal bem explorada. Ainda que seja um mundo complexa, a série é bastante feliz ao trazer o público para si e para os dramas pessoais vividos naquelas terras. E a belíssima abertura é um espetáculo à parte ao montar, quase que em maquete, os espaços que vamos conhecendo ao longo do percurso. Não é necessário sequer aquelas grandes paisagens exploradas por Peter Jackson, por exemplo, para se ter a dimensão dos Sete Reinos de Westeros. Ponto para os criadores que resolveram essa questão de forma muito criativa e não menos fascinante.
Além dos personagens, a trama também se desenvolve com uma facilidade quase que natural. Tudo se encadeia de modo bastante orgânico, funcionando em seus contextos sem parecer forçado. A separação de cada família também garante que, mesmo havendo tantos membros em cada Casa, os indivíduos tem, cada qual, a sua personalidade única, suas motivações e seus caminhos diferenciados. Ainda que há um certo protagonismo da família Stark, não há lados bom e ruim. Há influências familiares, claro, nas ações de cada personagem, mas há também aquilo que os torna únicos. O então alardeado jogo dos tronos se dá exatamente pela diversidade de intenções e consequências das ações de cada um. E exatamente por essa característica, não se pode eleger o herói e o vilão da história desde já, com tantas nuances entre todos eles ocorrendo o tempo todo.
Cada episódio deixa claro, por meio de suas escolhas, que não se deve esperar que, ao final de sei-lá-quantas temporadas, um ou outro seja eleito o rei e viva feliz para sempre. O penúltimo episódio é bastante corajoso ao mostrar que não há receio de se inverter papéis arquetípicos entre todos os personagens. Assim, é aqui que a história consegue estabelecer sua identidade. A jornada do herói, bastante conhecida deste e de tantos outros universos, não pode ser prevista. Ao mesmo tempo que sabemos quem será aquele pelo qual torceremos em histórias tradicionais, e que no fundo sabemos que será ele a salvar o dia, em Game of Thrones nada disto fica claro, aumentando então a tensão de que tudo pode acontecer.
Esta primeira temporada, contudo, deixou alguns (poucos) fãs um tanto quanto decepcionados pela falta de batalhas grandiosas e grandes embates entre as Casas antagonistas. Pode-se dizer que, no cinema, o climax destes combates é bastante necessário. Em O Senhor dos Anéis, por exemplo, cada um dos filmes exigia uma batalha épica por filme. No entanto, em um seriado que pode durar alguns anos e tantas horas mais, é fundamental que se guarde esse momentos para situações que realmente devam ficar marcadas como grandiosas. Até porque a batalha seguinte, nestes casos, precisa ser, necessariamente, maior, mais sangrenta, mais violenta, com mais gente lutando (e morrendo). Isso seria insanamente difícil de se fazer toda temporada. Assim, gostei bastante das escolhas da produção em explorar a personalidade de cada personagem e os desdobramentos de suas ações nesta temporada de apresentação.
Os efeitos especiais estão absolutamente apropriados, sem nenhum exagero, trazendo ainda mais realismo à trama, mesmo esta tendo elementos tão sobrenaturais e fantásticos como uma boa história como essa pede. A direção de arte é muito competente na sua proposta, não devendo nada para nenhuma superprodução do cinema, trazendo referências de tantas culturas diferentes, mas mantendo aquilo que nos é tão familiar. O elenco também mostra muita segurança nas nuances da construção de personagens tão complexos. Nomes como Sean Bean (que parece ter nascido para atuar nesse tipo de produção, lembrando muitas vezes sua competente atuação no primeiro SDA), Lena Headey (depois do épico 300 e de sua participação no seriado de O Exterminador do Futuro como Sarah Connor, em uma reconstrução muito interessante de uma personagem bastante cultuada e que, em muitos momentos, salvou a série) e Mark Addy trazem ainda mais respeito à série. Mais uma vez, o esmero da HBO se reflete na qualidade estética e narrativa de sua produção. Definitivamente, Game of Thrones é recomendação máxima, principalmente em um ano de estréias bastante medianas.
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